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Nas favelas do Brasil, telhados verdes podem ajudar a aliviar o calor

Aug 04, 2023

Acima: Favela do Alemão no Rio de Janeiro, 2011. Comunidades urbanas de baixa renda como essas tendem a não ter vegetação e são mais propensas a enfrentar calor extremo do que suas contrapartes mais ricas ou mais rurais. Visual: AF Rodrigues/Brasil Photos/LightRocket via Getty Images

O suor escorria pelo rosto de Luis Cassiano. Era 2012 e o dia mais quente do Rio de Janeiro até hoje: com quase 110 graus Fahrenheit, a cidade litorânea mal havia batido o recorde anterior estabelecido em 1984.

Cassiano e sua mãe, então com 82 anos, moravam na mesma casa estreita de quatro andares desde que se mudaram para o Parque Arará, uma favela na zona norte do Rio, cerca de 20 anos antes. Como muitas outras casas na comunidade da classe trabalhadora – uma das mais de 1.000 favelas da cidade brasileira de mais de 6,77 milhões de habitantes – seu telhado é feito de telhas de amianto. Mas as casas na sua comunidade são agora frequentemente cobertas com chapas de aço corrugado, um material frequentemente utilizado pelo seu baixo custo. É também um condutor de calor extremo.

Depois de aprender com um amigo sobre os telhados verdes da Alemanha, Luis Cassiano, morador do Parque Arará, decidiu construir um sozinho. “Comecei a imaginar toda a favela com telhados verdes”, disse ele. “E não só esta favela, mas outras também.”

Visual: Courtesy Luis Cassiano

Embora as temperaturas externas deixassem seu telhado quente o suficiente para cozinhar um ovo – Cassiano disse que uma vez tentou e conseguiu – por dentro a sensação era pior. “Só voltei para casa para dormir”, disse Cassiano. “Eu tive que escapar.”

O Parque Arará reflete muitas outras comunidades urbanas de baixa renda, que tendem a não ter vegetação e são mais propensas a enfrentar calor extremo do que as suas contrapartes mais ricas ou mais rurais. Essas áreas são frequentemente denominadas “ilhas de calor”, uma vez que apresentam bolsas de altas temperaturas – por vezes até 20 graus mais quentes do que as áreas circundantes.

Esse clima afeta a saúde humana. As ondas de calor estão associadas ao aumento das taxas de desidratação, insolação e morte; podem agravar condições crónicas de saúde, incluindo doenças respiratórias; e eles afetam a função cerebral. Estes problemas de saúde irão provavelmente aumentar à medida que as ondas de calor se tornarem mais frequentes e graves com as alterações climáticas. De acordo com um estudo de 2021 publicado na Nature Climate Change, mais de um terço das mortes relacionadas com o calor no mundo entre 1991 e 2018 podem ser atribuídas ao aquecimento do planeta.

O calor extremo preocupou Cassiano. E como morador de favela de longa data, ele sabia que não poderia depender do governo brasileiro para criar melhores condições de vida para seus vizinhos, a maioria dos quais são negros. Então, ele decidiu fazer isso sozinho.

Ao conversar com um amigo que trabalha com desenvolvimento sustentável na Alemanha, Cassiano aprendeu sobre telhados verdes: um recurso de projeto arquitetônico em que os telhados são cobertos por vegetação para reduzir as temperaturas internas e externas. O país europeu começou a explorar seriamente a tecnologia na década de 1960 e, em 2019, expandiu os seus telhados verdes para cerca de 30.000 acres, mais do que duplicando numa década.

“Por que as favelas não podem fazer isso também?” ele se lembra de ter pensado.

A investigação científica sugere que as infraestruturas verdes podem oferecer aos residentes urbanos uma vasta gama de benefícios: além de arrefecerem as temperaturas ambientes, podem reduzir o escoamento de águas pluviais, reduzir a poluição sonora, melhorar a eficiência energética dos edifícios e aliviar a ansiedade.

O calor extremo preocupou Cassiano. E como morador de favela de longa data, ele sabia que não poderia depender do governo brasileiro para criar melhores condições de vida para seus vizinhos, a maioria dos quais são negros.

Mais de 10 anos desde aquele dia quente de 2012 – e vários recordes de calor depois – Cassiano dirige a Teto Verde Favela, uma organização sem fins lucrativos que ele começou a educar os moradores sobre como eles podem construir seus próprios telhados verdes. A construção de favelas apresenta seu próprio conjunto de peculiaridades técnicas e problemas de políticas públicas, e Cassiano contou com a ajuda de cientistas locais para pesquisar melhores práticas e materiais. Mas cobrir os telhados de um bairro inteiro requer tempo e – mesmo com medidas de redução de custos – um grande orçamento.